Piscicultura na Barragem de Ponte Nova – Um trabalho com “saberes” intergeracional, por Milton N. De Santana e Marcos Daniel R. De Faria

23/01/2012 às 12:14 | Publicado em Sem categoria | 1 Comentário
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Estivemos na barragem de Ponte Nova, no dia 17/1/2012, para conhecer o trabalho da piscicultura, realizado pela equipe da DEO (Diretoria da Engenharia e Obras) dentro da Barragem de Ponte Nova.  O trabalho basicamente é a reprodução de espécies nativas de peixe da região do Alto Tietê para repovoamento dos rios.

Primeiramente a equipe é formada por dois técnicos: Milton Nunes de Santana, (conhecido também como Miltão) admitido no DAEE em 26/10/1973, portanto com 38 anos de serviços prestados à Autarquia, hoje com 60 anos, e Marcos Daniel Reno de Faria, biólogo admitido em 2010, com 28 anos. Ambos nascidos e crescidos na região de Biritiba Mirim e Salesópolis.

Milton comenta que começou suas atividades no DAEE, em 1973, fazendo valetas e atuando no serviço pesado, braçal. Depois com alguma sorte, foi atuar no refeitório de Ponte Nova atendendo os servidores, e depois começou também a atuar no refeitório da pousada de Ponte Nova aos finais de semana. Como pelo fato dele trabalhar nos finais de semana na Pousada, fez com que perdesse suas horas de plantão, optou por se transferir para Barragem de Penha onde atuou por um período. Ali garantiria o seu sustento, trabalho e horas extras, já que isto era peculiar às atividades da unidade.

Porém com a ida do Panca (Antonio Rodrigues de Camargo Neto) para Ponte Nova, por volta dos anos 2000, foi convidado por ele para retornar a Ponte Nova. Gostava de atuar com Panca e também de atuar na região mais próxima a sua casa. Nesta época estava se iniciando, esta área de piscicultura, ele foi convidado para um curso realizado nas Centrais Elétricas de São Paulo – CESP em Paraibuna, sobre o tema.

Participou por uma semana deste curso, juntamente com o Vinicius Benedito de Faria  – Biólogo da área de Gestão Ambiental da DEO (atualmente em Taubaté).   Ele já tinha conhecimento prático sobre o assunto, mas como bom pescador adorou conhecer mais sobre peixes.

Depois do curso, caberia ao Vinicius ficar na DEO/Assessoria de Gestão Ambiental – São Paulo cuidando da parte técnica e administrativa desta área, entre outros temas, e a ele a parte prática do negócio, ou seja, montar e cuidar da piscicultura, cuidando e tratando do assunto, numa sala e tanques dentro da barragem de Ponte Nova. Tratava do manejo dos peixes, desova, aplicação de hormônios (com auxílio de alunos da Prof.ª Drª Renata Guimarães), reprodução e soltura dos peixes, sozinho por não ter equipe disponível pra esta atividade no DAEE, até a chegada do Marcos.

Foi quando em 2007 apareceu o Marcos através de um convênio do DAEE com a FAEP – Fundação de Amparo ao Ensino e Pesquisa ligado a UMC – Universidade de Mogi das Cruzes. Ele já havia feito um pequeno estagio na piscicultura, mas após a formalização do convênio e com a indicação de um professor, começou a atuar junto com Milton.

Marcos diz que peixes sempre foi sua paixão, e sempre quis se especializar nisto. Hoje além de sua formação, preparo e trabalho prático, terminou em 2011 seu mestrado em Biotecnologia: “Biotecnologia define-se pelo uso de conhecimentos sobre os processos biológicos e sobre as propriedades dos seres vivos, com o fim de resolver problemas e criar produtos de utilidade.” A definição ampla de biotecnologia é o uso de organismos vivos ou parte deles, para a produção de bens e serviços”.

Seu tema de mestrado foi: Desempenho da Traíra Hoplias malabaricus (BLOCH, 1794) (Characiformes, Erythrinidae) en cultivo semi-intensivo nas fases de crescimento e engorda.

O Convênio DAEE – FAEP ocorreu de 2003 a 2008, portanto após sua finalização foram feito todos os contatos para que o convênio não se extinguisse, o que de fato não ocorreu, e como seu trabalho passou a ser importante em parceria com Miltão, ele foi contratado pelo DAEE para dar continuidade neste trabalho.

Hoje segundo estes dois técnicos eles atuam basicamente com duas especies de peixes: Lambari e Tabarana.

A primeira especie tem duas subcategorias, o Lambari Peva e o Lambari Guaçu.  A diferença entre as especies podem ser observadas pelo tamanho, isto para o leigo, mas em termos técnicos há realmente diferença entre as especies. Miltão brinca que durante o convênio com a FAEP discutia com o Prof. Alexandre da FAEP que havia duas especies deste peixe, pois como pescador podia assegurar isto. O Professor disse que só afirmaria isto depois de realizar estudos de DNA, etc. Ele o fez, e realmente concluiu que Miltão com sua sabedoria e prática estava certo.

Já a tabarana é um peixe de grande porte um dos maiores peixes dentro da bacia do Alto Tietê, é um peixe migrador e sob o rio para se reproduzir.

Com as condições adversas para subir o rio, há dificuldade para desovar e se reproduzir, portanto o trabalho deles com estas duas especies é realmente ajudar a reprodução destas especies nestes locais proximos à barragem.

Isto explica porque eles atuam com estas duas especies.

Comentam que durante um periodo fazem este trabalho de reprodução das especies, utilizam os tanques pequenos na sala, depois os transferem para os tanques externos, de acordo com critéiros técnicos. A reprodução em cativeiro ocorre de outubro a março, no periodo da Piracema.

A partir de março, eles convidam escolas, prefeituras, ONG(s), realizando um evento de educação ambiental com estudantes, explicando o trabalho realizado, sua importancia, a preocupação com o equilibrio do meio ambiente, levando estes alunos com os peixes devidamente embalados para soltura nos rios da região do Alto Tietê.

É muito gratificante pra eles verem a reação das crianças, como eles ficam entusiasmados e felizes por poderem participar (e entender) este ato.

O trabalho destes dois técnicos é muito interessante, percebe-se que eles são pessoas idealistas e que adoram o que faz, e que mesmo com as dificuldades de recursos, pois não dispõem de verba para poder melhorar o que fazem, pois os recursos são escassissimos na área pública em geral, mas não desistem.     

Eles com muito entusiasmo comentam que gostariam de montar uma sala com aquários somente com peixes da região para poderem dar maior orientação ambiental às crianças e escolas que os visitam. Mas que no momento isto está so na cabeça deles, faltam recursos para este tipo de empreendimento, infelizmente.

Ficamos sabendo ainda (pasmem) que os peixes até certo periodo de suas vidas, não tem o sexo definido (“acho” que três meses), portanto os técnicos podem defini-lo aplicando hormonios. Assim caso prefiram especies com mais carne (no caso da tilapia) aplicam um tipo de hormonio para que ele se transformem em machos. Imaginem só, nunca imaginaria uma coisa desta. Vivendo e aprendendo….Nada como falar com quem entende.

Ao passarmos pelos tanques observamos também outros idealistas que ali estavam: alunos da USP, que faziam experiencias e estudos naquele local. São alunos do Mestrado e Doutorado, bastante jovens, do curso de fisiologia do Instituto de Biociências. Segundo eles estavam fazendo estudos sobre a reprodução do Lambari – duas especies, uma que se reproduz em cativeiro e a outra não. Seu objetivo: descobrir qual o motivo disto.

Mostraram-nos o útero de um lambari, muito animadas com o assunto, com certo brilho nos olhos para que entendessemos a importancia do estudo, isto percebemos logo, mas como leigo tudo pra nós era muito complicado.  Ficamos sabendo que uma aluna mignon e jovenzinha era a supervisora do projeto, Gabriella Bambrilla, (supervisionada pela Professora Drª. Renata Guimarães Moreira) cheia de entusiasmo, com cara de muito conteúdo e satisfeita com seus especies e estudos.  Muito bom, tomara que estas pesquisas nos tragam peixes melhores.  

Voltando aos nossos servidores, finalizamos dizendo que foi uma aula de conhecimento pra nós, e ainda uma satisfação ver a sintonia de dois profissionais de gerações tão diferentes, se dando tão bem, se entrosando, afinados, sintonizados, com o mesmo objetivo e idealismo, e ainda por cima, sempre querendo fazer mais.

Teoricamente nos cabe dizer que, aos profissionais senior com mais tempo de casa, deve sempre haver uma mente com abertura para o novo, não ter preconceitos, aprender e aceitar novos conceitos, tecnologias, ideias e se esforçar para não querer sempre dar a última palavra.  Aos mais novos o respeito pela bagagem do profissional com mais tempo de casa, por sua experiência, suas ideias, prática, morosidade em alguns casos. 

Porém neste caso piscicultura percebemos que as nossas teorias se encaixavam perfeitamente nestes dois profissionais, parece que eles leram todas estas teorias (e as aplicaram).

É isto que nos deixa cada vez mais feliz, podermos relatar o nosso universo e cenário DAEE e este vestir a camisa (e calção e chinelos, mesmo que molhados) dos nosos técnicos da piscicultura.  Portanto, mais uma vez, Parabéns a eles.

Em tempo quando citamos o termo intergeracional,  nos referiamos a um trabalho realizado pelo Sesi na decada de  80 (não me lembro especificamente o periodo)  quando atuava com oficinas com jovens e pessoas da terceira idade, onde caberia aos jovens ensinar informatica aos idosos e estes xadrez e dama aos jovens. Assim cada qual poderia a cada um utilizar suas habilidade e competências ensinando aquilo de que era capaz, e aprender aquilo que não era naquele momento.

1 Comentário »

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  1. Parabéns ;
    primeiramente à Silvia pela iniciativa da entrevista,
    também ao “meninos” da Piscicultura como são, carinhosamente, conhecidos na diretoria (DEO), são grandes batalhadores na causa ambiental
    Parabéns Marcos e Miltão
    José Roberto Micali


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